ITAJUBÁ (MG) e RECIFE - Em clima de campanha antecipada, a presidente Dilma Rousseff fez críticas aos adversários políticos, nesta segunda-feira, em Itajubá (MG). Disse que não está preocupada com a reeleição porque se dedica a governar enquanto os outros candidatos ainda têm de estudar os problemas do país.
Em Recife, à tarde, a ex-senadora Marina Silva partiu para o ataque ao afirmar que a marca do governo Dilma “é a do retrocesso”, e que a política econômica da gestão de Dilma vem sendo praticada com “alguma negligência em função da ansiedade política”, o que põe em risco as conquistas adquiridas desde o início da estabilização econômica, que começou a ser implantada ainda no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.
Em entrevista às rádios Itatiaia e Panorama, de manhã, Dilma disse que não está de salto alto e evitou comentar as pesquisas recentes de intenção de voto do Datafolha, que a colocam como vitoriosa em primeiro turno em uma disputa com o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB).
- Acredito que, para as pessoas que querem concorrer ao cargo, elas têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil. Eu passo o dia inteiro fazendo o quê? Governando. Veja que não é uma questão para qual eu possa destinar toda a minha atenção. Eu respeito todos os contendores, todas as pessoas que pleiteiam, acho todos os pleitos extremamente legítimos. Agora, o meu problema é governar, não é ficar preocupada com quem vai ser candidato. Até porque há indefinições - disse Dilma.
A presidente disse que não está se colocando em posição superior:
- Apesar de respeitar, de achar que ninguém pode subir no salto alto, o meu problema não é salto alto. É o seguinte: não dá para fazer as duas coisas simultaneamente - disse Dilma, que reforçou:
- Eu sou presidenta, fui eleita presidenta de todos os brasileiros e eu tenho nas 24 horas do dia de exercer a Presidência da República. E a Presidência da República é algo bastante complexo. Portanto, eu tenho de trabalhar muito e dar o melhor de mim.
Sobre a colocação da presidente, Marina respondeu:
— Acho que ela deu conselho de professora. Fui alfabetizada aos 16. Se tem uma coisa que gosto é valorizar aquelas que se dispõem a estudar. E que pega coisas com muita consistência. Aprender é sempre bom. Difícil aqueles que acham que não têm mais o que aprender e só conseguem ensinar.
E Marina partiu para o ataque ao governo Dilma. Ela defendeu a permanência das conquistas instituídas durante o governo Fernando Fenrique Cardoso, como a estabilidade econômica, e as conquistas sociais do ex-presidente Lul, e voltou a defender a manutenção do tripé econômico que inclui geração de superávit primário nas contas públicas, câmbio flutuante e metas de inflação, que vigoraram nas duas gestões anteriores.
- No que diz respeito à política econômica, temos que reconhecer que as dificuldades mundiais têm a ver com a crise. Mas tem a ver com alguma coisa que vem sendo praticada em função da ansiedade política, a partir do segundo governo de Lula, e sobretudo no atual governo que, no meu entendimento, está fragilizando a política econômica. Tudo que conquistamos foi em função de termos compromisso com a meta da inflação, mas o seu teto está sendo extrapolado - disse Marina.
Para a ex-senadora, a marca do governo Dilma tem sido a do retrocesso, inclusive na área de sustentabilidade, não só na área do meio ambiente, mas também na política:
- A marca do governo Dilma tem sido a do retrocesso. Não gostaria que a presidente tivesse essa marca. Ela cumpriu o seu papel, mas o modelo se esgotou, não tem mais para onde ir - disse Marina.
Para a ex-senadora, o governo Dilma, mesmo com 40 ministérios, não hesita em criar novas pastas, para manter fiel sua base política.
- E isso é insustentável.
A ex-senadora também saiu em defesa da autonomia do Banco Central, mas sem institucionalização, por temer que o Congresso Nacional desvirtue as suas funções.
Marina denunciou que o BNDES está voltado para o benefício de meia dúzia de empresários:
- A gente vê o BNDES sendo utilizado de maneira inadequada, para eleger alguns ungidos, que são os que recebem dinheiro do BNDES. Só para o empresário Eike Batista, foram mais de R$9 billhões, que foram praticamente jogados na lata do lixo. Talvez a preocupação não seja com aqueles que querem manter o tripé da política econômica, para manter o equilíbrio econômico do país e as conquistas sociais. Talvez a preocupação seja com aqueles que estão desequillibrando o que foi conquistado a duras penas, inclusive com políticas muito dúbias, que escolhem meia dúzia para receber os dinheiro do banco, que é público, sem que isso passe por uma discussão no Congresso.
A ex-senadora continuou:
- Corremos o risco de ver o dinheiro do contribuinte sendo dado a um grupo que causa um prejuízo irreparável às finanças públicas. Imagine esse dinheiro sendo dado a jovens empreendedores, a quantidade de oportunidade que poderíamos ter em termos de geração de novos empregos e novos negócios.
Marina disse que a união entre a Rede e o PSB já começa a tornar a presidente em refém das forças que a sustentam. Para Marina, Dilma cumpriu um papel, mas o modelo se esgotou.
— Não tem mais para onde ir.
Em Itajubá, em seu discurso para uma plateia de cerca de 400 pessoas, a maioria empresários e industriais, Dilma defendeu sua política econômica, que já tinha sido criticada antes por Marina em reunião com empresários paulistas. Marina disse que, apesar da crise econômica internacional, o país seguirá cumprindo as metas de inflação (4,5% em 2013).
- Pelo décimo ano consecutivo a inflação vai fechar o ano dentro da meta. Nosso compromisso com o rigor fiscal não se alterou como mostra o fato de termos transitado pela mais grave crise da História desde 1929 com as nossas metas de endividamento sob rígido controle. Hoje a nossa dívida líquida do setor público sobre o PIB é uma das menores do mundo - disse Dilma.
A presidente definiu a oscilação do câmbio como positiva:
- Defendemos e praticamos uma política de flexibilidade cambial, o que tem nos permitido também fazer face a esse novo momento em que o mundo transita para uma modificação das políticas monetárias, notadamente da política monetária americana. Isso nos permite procurar sempre dar, dentro da variabilidade cambial, maior estabilidade ao país.
A presidente, que, tanto na entrevista às rádios como no discurso, elencou os investimentos do país em Minas e no setor industrial, disse ainda que o governo tem atuado para reduzir o custo das indústrias.
- Nós temos esse compromisso com a robustez econômica, mas também desenvolvemos paralelamente a esse cuidado toda uma política de redução de custos para a indústria. Reduzimos o custo da energia e desoneramos a folha de pagamentos - afirmou a presidente.
Acompanhada do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e do ministro da Agricultura, Antonio Andrade, Dilma esteve em Itajubá para a inauguração de uma fábrica de transformadores de corrente elétrica da Balteau. Pimentel é o provável candidato do PT ao governo mineiro. Já o ministro Andrade, do PMDB, era o mais cotado ao posto de vice-governador, que poderá ser ocupado agora por Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar. Ao lado de Dilma, na cerimônia, estava o governador tucano Antonio Anastasia.
Fora da fábrica, um pequeno protesto de metalúrgicos foi comandado pelo sindicato local, filiado à CSP-Conlutas, ligada ao PSOL e ao PSTU. Sobre um carro de som, um dirigente sindical afirmava que a presidente estava ao lado dos patrões em detrimento dos operários. A manifestação não afetou a agenda de Dilma, que passou pouco mais de duas horas na cidade.
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